A equipe da Espaço Arqueologia fez uma importante descoberta durante estudos realizados no sítio arqueológico Jaboticabeira 8, localizado no município de Jaguaruna, Santa Catarina.
Mais de quatro mil artefatos arqueológicos foram encontrados no local estudado. A análise de restos de carvão, provenientes de fogueiras domésticas, foi datado pelo laboratório Beta Analytics, na Flórida/EUA, e indicam que o sítio foi ocupado entre os anos de 1580 e 1610 da Era Cristã, período que, segundo os documentos históricos, corresponde à presença de Padres Missionários na região entre Laguna e Araranguá, no sul de Santa Catarina.
Os arqueólogos Valdir Luiz Schwengber e Daniela da Costa Claudino coordenaram a pesquisa no Jaboticabeira 8. Valdir explica que uma equipe multidisciplinar de pesquisadores trabalhou com empenho em várias frentes para juntar o maior número de dados arqueológicos e documentais. Dessa forma, compomos um consistente aporte interpretativo sobre este sítio arqueológico, que, por suas características, indica grandes contribuições para a história regional, avalia.
Além das datações, que demonstram a contemporaneidade deste sítio com as primeiras levas de exploradores e religiosos europeus, foram encontrados, junto ao conjunto de cerâmica indígena Guarani, contas venezianas e fragmentos de botijas em grés.
De acordo com o arqueólogo Jedson Cerezer, doutor pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Portugal, estes materiais têm características tecnológicas diferentes das dominadas pelos guaranis no sul do Brasil. A peça em grés, em especial, tem na composição da pasta um refinamento que necessita a queima em altas temperaturas, obtidas somente com o uso de fornos com câmaras de isolamento que permitem o controle de temperaturas e atmosferas. O mesmo é visto na conta veneziana, cujos processos de produção demanda de implementos e técnicas que, para o período, só havia na Europa e Ásia.
A identificação deste material comprova a existência de um sistema de trocas relatado pelos Padres Jesuítas em cartas escritas no ano de 1605. Segundo o arqueólogo e historiador Lindomar Mafioletti Júnior, a documentação histórica deste período relata a existência de relações recíprocas entre índios e europeus. Nos relatos das cartas jesuíticas, são mencionadas contas e botijas como sendo objetos de trocas ou presentes, relatando também uma forte rede de aprovisionamento de escravos por parte de índios guaranis, conhecidos como Tubarões.
De acordo com os pesquisadores, tal documentação dá grande ênfase à ação dos vicentistas, que realizavam expedições de aprisionamento de indígenas para serem vendidos como escravos em São Paulo e na Bahia. Contudo, conforme analisa o arqueólogo Raul Viana Novasco, a manutenção de uma habitação em um mesmo lugar por 30 anos indica que esses grupos Guarani não estavam fugindo dos europeus, e a presença desses materiais históricos demonstra que a relação de troca pode ter sido muito frequente, derrubando a tese da total dominação desses povos indígenas.”