Sítios arqueológicos do município de Luiziana são objeto de estudo

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Sede da maior cooperativa agrícola da América Latina, a região de Campo Mourão, estado do Paraná, tem refletida em sua paisagem a importância econômica e social desta atividade. Por onde quer que se chegue ao principal município da região – Campo Mourão – o que se avista no horizonte são os extensos campos de monocultura, nos quais, estão incrustados pequenos conjuntos urbanos ou grandes cidades.
Esta paisagem, compartilhada por boa parte do território paranaense, é resultado de um processo de ocupação e uso do espaço iniciado, efetivamente, a partir do início do século XX com a instalação de frentes colonizadoras nas porções norte e centro-oeste desse Estado.
Desde então, os sertões e suas densas florestas com araucária foram sendo, paulatinamente, substituídas por campos agricultáveis, resultando em uma brusca transformação da paisagem, produto única e, exclusivamente, do comportamento humano.
O registro dessa transformação da paisagem e do comportamento humano intrínseco a esse processo pode ser encontrado em fotografias e documentos escritos, como livros, jornais, escrituras de compra e venda de terras, etc. Contudo, o horizonte cronológico alcançado por esses registros representa, apenas, cerca de 1% de toda a história de ocupação humana desse território, enquanto que, os outros 99% só podem ser estudados a partir do registro arqueológico.
Estima-se, com base em dados arqueológicos obtidos em regiões vizinhas aos municípios de Luiziana e Campo Mourão, que as primeiras populações humanas ocuparam o território centro-oeste do Paraná a partir de 10.000 anos atrás, época em que, segundo informações paleoambientais, a paisagem seria bem diferente da atual.
Mas, ao contrário do que a frase anterior sugere, os atuais campos de monocultura não eram cobertos por densa floresta; na verdade, devido ao clima frio e seco que predominava há 10 milênios, eram as savanas que cobriam toda essa região. Assim, propõe-se que, por meio de diferentes estratégias, as primeiras populações que ali viveram obtinham da caça de diversos tipos de animais e da coleta de vegetais, os recursos necessários para sua vida.
Os estudos de paleoambiente indicam que a paisagem somente teria se transformado significativamente há 4 mil anos, quando as condições do clima mais quente e úmido teriam permitido o desenvolvimento de uma vegetação característica de cerrado, aumentando consideravelmente a oferta de recursos para as populações humanas. Acredita-se que as pessoas ainda se organizavam em grupos familiares que subsistiam a partir da caça e da coleta, contudo, por ora, nada além disso se pode inferir sobre seu comportamento.
Outra mudança significativa da paisagem da região de Campo Mourão teria acontecido a partir de 1000 anos atrás, quando, segundo especialistas, o clima ainda mais úmido e ameno, teria proporcionado o estabelecimento da floresta com araucária. Essa mudança na paisagem ocorre no mesmo período em que algumas populações indígenas etnograficamente conhecidas, começam a ocupar essa região, tais como os Jê Meridionais e os Guarani.
É, também deste período, que se acredita que sejam os sítios arqueológicos Lago Azul 1 e Lago Azul 2, estudados no âmbito do “Programa de Resgate Arqueológico na área de implantação do empreendimento imobiliário Estância Lago Azul” no município de Luiziana.Estes sítios estão localizados na margem esquerda do reservatório da Usina Mourão I, e são compostos por conjuntos de materiais líticos lascados que, quando estudados, permitiram verificar que se tratavam de unidades habitacionais, provavelmente, associadas às populações Jê Meridionais. O arqueólogo Thiago Torquato, responsável pela análise do material lítico afirma que “tal associação é postulada pelas características da indústria lítica evidenciada nos sítios, que é muito semelhante à indústria de sítios onde esse tipo de material é encontrado, no mesmo contexto de vasilhas cerâmicas da tradição tecnológica Itararé, que por sua vez, é atribuída aos povos Jê”.
Os tipos de rocha encontrados nos sítios demonstram que esses grupos se deslocavam no território para obter matéria-prima para produzir os artefatos que, possivelmente, eram utilizados na preparação de alimentos e produção de outros utensílios.
Para o arqueólogo Raul Novasco, coordenador do projeto, “essa evidência de mobilidade indica o domínio e o uso desse território por essas populações que, ao passo que usufruem daquilo que está disponível no meio, também estabelecem estratégias de manejo destes recursos e, assim, transformam e domesticam a paisagem”. Ainda para o pesquisador, “apesar de bastante específicos e locais, os dados obtidos a partir desse programa de pesquisa arqueológica representam uma importante contribuição para a arqueologia regional, visto que servem de referência e subsídio para estudos comparativos futuros, seja de cunho territorial ou tecnológico”.

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