Com isso, boa parte dos terrenos são formados por solos arenosos, com pouca disponibilidade de rochas de boa qualidade para a produção de artefatos líticos lascados, por exemplo. Por outro lado, o mesmo rio Iguaçu, que traz muita areia e a deposita em suas margens, já trouxe e ainda traz seixos de rochas cristalinas boas para o lascamento; com isso, as margens do rio Iguaçu, se tornam bons locais para captação de recursos, seja para a produção de cerâmica (argila), seja para a produção de instrumentos em pedra (seixos).
Distanciando-se da margem do rio Iguaçu, em direção a sudeste, passam a ser encontrados os vales mais fechados, cercados por grandes colinas que evidenciam o contato entre as rochas mais antigas (granitos) e as rochas sedimentares. Nelas, podem ser encontrados blocos de rochas e minerais de maior qualidade para a produção de materiais líticos.
É nessa parte do território de Porto União, mais precisamente na localidade de Santa Cruz do Timbó, que a Espaço Arqueologia desenvolveu estudos no início da década de 2010, e estudou vestígios arqueológicos associados a populações de caçadores-coletores antigos, demonstrando que, nessas áreas, a ocupação humana começou há milhares de anos. Os resultados dessa pesquisa, podem ser consultados no livro “Um olhar sobre o processo de ocupação de Porto União”, organizado pelos arqueólogos Valdir Luiz Schwengber e Raul Viana Novasco (link aqui), onde, além de informações sobre a arqueologia local, há textos muito interessantes sobre a história recente da região.
Voltando para as margens do Iguaçu, sobre as planícies e vales abertos, poucas pesquisas foram realizadas, mas, com elas, foi possível encontrar vestígios de povos que tinham sua economia baseada na caça e na coleta associada à cultivos, tais como as populações Jê Meridionais e as Guarani. Essas populações, segundo a bibliografia, chegaram nessa região há cerca de 1500 anos e, aos poucos, foram tomando conta dos territórios que antes pertenciam aos caçadores-coletores. Os Jê Meridionais ainda se fazem presente na região, com famílias da etnia Xokleng, que ocupam a Terra Indígena Rio dos Pardos.
Em suma, o que se quer dizer é que o município de Porto União apresenta uma grande diversidade geológica, que compõe uma paisagem complexa, formada por planícies extensas e vales encaixados que, dadas suas particularidades, oferecem diferentes recursos às populações humanas. Com isso, acompanham essa diversidade ambiental, a diversidade arqueológica que, com a realização de novos estudos, poderão trazer respostas sobre a forma como as pessoas se relacionaram com essa paisagem ao longo dos últimos milhares de anos.