Pesquisa arqueológica entre Paraná e Santa Catarina

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Equipe realizou Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico

Os Campos de Cima da Serra, como é conhecido, e a região do Contestado englobam vários municípios dos Estados de Santa Catarina e do Paraná. No século XVIII, uma dinâmica cultural bastante expressiva acompanhava as necessidades econômicas e sociais da época, ainda durante o Brasil Colonial. Destaca-se neste cenário todo o movimento gerado pelo caminho das tropas, que ligavam os campos de Vacaria no Rio Grande do Sul, passando pelas terras catarinenses e paranaenses até chegar à Sorocaba, território paulista, onde o gado era finalmente comercializado.

Mais adiante, no início do século XX, ocorreu outro fato histórico expressivo. A Guerra do Contestado eclodiu entre os anos 1912 e 1916, desencadeado por três fatores principais: a disputa por terras envolvendo os limites entre Paraná e Santa Catarina; a construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul pela Brazil Railway Company, que desapropriou os sertanejos ao longo da linha férrea; e o forte sentimento religioso envolvendo figuras messiânicas como os Monges João Maria D’ Agostinis (1846), João Maria de Jesus (1890) e José Maria de Santo Agostinho (1912), os quais através de sua religiosidade promoviam a união do povo, transmitindo esperança em sua luta pela terra.

Os caboclos do Contestado resistiram por quatro anos com coragem, determinação de causa, objetivos, devoção religiosa e conhecimento topográfico da região em que se desenrolavam os combates, porém, em 1916 foram vencidos pelas tropas oficiais. Ao longo do tempo, este recorte geográfico foi sendo modificado pelas novas dinâmicas da sociedade, deixando as histórias, os vestígios materiais daqueles tempos e as crenças religiosas.

Este é o cenário onde está acontecendo a Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico nas áreas de duplicação da rodovia BR-116, em trechos descontínuos. A obra abrange os municípios de Lages, Correia Pinto, Ponte Alta, São Cristóvão do Sul, Ponte Alta do Norte, Santa Cecília, Monte Castelo, Papanduva, Itaiópolis e Mafra/SC e, Rio Negro e Mandirituba/PR.

Nessa etapa, o principal objetivo é avaliar as áreas de influência do empreendimento por meio de pesquisa bibliográfica e levantamento de campo. No local de influência do empreendimento são feitos caminhamentos para as verificações de superfície e pequenas escavações com cavadeira articulada, chamadas “poços-teste”, para as verificações de subsuperfície. Todo o processo passa por registro em fotografias digitais e anotações das informações sobre os aspectos da paisagem e do sedimento investigado resultando, muitas vezes, na identificação de materiais arqueológicos, produzidos e utilizados por grupos humanos que ali estiveram no passado.

Além do uso da metodologia de campo, os pesquisadores fizeram diversos contatos com as secretarias municipais de educação, além de instituições privadas, estabelecimentos comerciais e junto aos moradores do entorno da rodovia, em todos os municípios abrangidos pelo projeto. Estes contatos tiveram o objetivo de divulgar os trabalhos de pesquisa e também levantar informações junto aos entrevistados sobre a possível identificação de vestígios arqueológicos por parte da comunidade e sobre o que consideram como patrimônio cultural do local onde residem. Em muitas entrevistas foi citado o Monge João Maria, como uma figura de importância religiosa para muitas pessoas.

Apesar da não a identificação de sítios arqueológicos, foram elencados alguns bens de interesse histórico, sendo um muro de taipa no município de Lages e, duas grutas em devoção ao Monge João Maria: uma no município de Santa Cecília e outra no município de Papanduva, todos no Estado de Santa Catarina.

No momento, a pesquisa encontra-se em fase de análise de dados e elaboração do relatório de pesquisa. Após as orientações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), poderá ocorrer em uma nova etapa de aprofundamento da pesquisa e assim novas informações serão geradas e publicadas.
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