Arqueólogos realizam pesquisas no litoral catarinense

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Região entre Penha e Balneário Piçarras foi estudada.

Na última semana de março, uma equipe de arqueólogos da Espaço Arqueologia desenvolveu três pesquisas de avaliação de impacto ao patrimônio arqueológico em três áreas de implantação de empreendimentos do setor imobiliário, a serem instalados nos municípios de Penha (duas áreas) e Balneário Piçarras (uma área), região do litoral centro-norte catarinense.

Por meio das técnicas de pesquisa, como linhas de caminhamento e escavação de poços-teste, não foram encontrados vestígios arqueológicos nas áreas, no entanto, o histórico das pesquisas feitas anteriormente na região conta com o registro de importantes testemunhos de ocupação humana no ambiente ao longo do tempo.

Embora urbanizada, a paisagem é regionalmente caracterizada pelas planícies costeiras, formadas por grandes porções de terreno suscetíveis a inundações periódicas, geralmente separadas da linha de costa por cordões e barreiras de dunas estáveis ou móveis, drenadas por rios que nascem nas serras do Leste e na borda leste da serra geral, desaguando no Oceano Atlântico.

Ao longo dos últimos 5 mil anos, a paisagem sofreu mudanças consideráveis em decorrência dos movimentos de transgressão e regressão do nível do mar. Juntamente com essas mudanças ambientais, houve um processo de ocupação deste ambiente, empreendido por diferentes populações humanas que, ao longo da costa catarinense, se integraram e transformaram a paisagem da faixa leste do Estado.

As pesquisas arqueológicas desenvolvidas até o momento mostram que o litoral de Santa Catarina foi ocupado desde 8 mil anos atrás, por populações de caçadores-coletores e pescadores coletores; e grupos de economia mista a partir de 1500 anos atrás, até a chegada dos primeiros europeus, a partir do século XVI.

Mais precisamente para os municípios de Penha e Balneário Piçarras, as pesquisas arqueológicas já realizadas resultaram no registro de sítios arqueológicos pré-coloniais associados aos povos pescadores-coletores, conhecidos na literatura arqueológica como sambaquieiros, sendo os sambaquis Penha I, Penha II, Penha III e Carvoeira (em Penha) e Piçarras 1 e Santo Antônio (em Piçarras). Também há registro de um sítio histórico em Penha (Armação de Itapocorói) e um sítio histórico em Balneário Piçarras (sítio Piçarras 2).

Os sambaquis são sítios arqueológicos monticulares distribuídos pela costa brasileira, ocupando principalmente as áreas de lagoas, foz de rios e áreas recortadas de baías e ilhas. Em Santa Catarina esses sítios são encontrados por todo o litoral atlântico. Suas dimensões são variadas, com alguns chegando a atingir 70 metros de altura e 500 metros de comprimento, possuindo, em geral, uma sequência estratigráfica de composição diferenciada, com camadas de conchas mais ou menos espessas, interpostas por estratos finos e escuros, formadas por materiais orgânicos e estruturas distribuídas em áreas específicas. Destas estruturas, as mais significativas são os sepultamentos, com frequência acompanhados de artefatos, oferendas alimentares e fogueiras.

O processo de ocupação empreendido por populações sambaquieiras, instaladas na região há, pelo menos, 6 mil anos durou até por volta do primeiro milênio da era Cristã, quando nota-se a introdução de elementos da cultura material que indicam a presença de populações Jê Meridionais, ceramistas, e bem adaptadas aos ambientes costeiros.

Além do grande potencial no que diz respeito à identificação de remanescentes das ocupações pré-coloniais, também há no litoral centro-norte de Santa Catarina, grande potencial para estudos de arqueologia histórica.

Este potencial está ligado as primeiras ocupações históricas da região, datando do início da segunda metade do século XVIII, estando diretamente relacionado com a pesca da baleia e atividades que envolviam o beneficiamento, comercialização e transporte do óleo extraído destes animais marinhos. O sítio arqueológico Armação de Itapocorói está relacionado a esse contexto.

Ainda ligado ao contexto histórico desta região, existe uma pesquisa andamento, na qual foram identificados vestígios materiais que remontam ao final do século XVIII e início do século XIX, tais como faiança fina portuguesa e, “louça de barro”, cujo processo de manufatura remonta ao século XIX, configurando um sítio arqueológico histórico, denominado Piçarras 2, cujas informações trarão importantes contribuições para o conhecimento histórico sobre este período.

Este rico panorama foi tema para as atividades educativas realizadas no âmbito das pesquisas ora realizadas. Estas informações foram transmitidas pelos arqueólogos nas conversas com os moradores sediados nas proximidades das áreas pesquisadas, sendo também distribuídos materiais didático-informativos sobre os bens acautelados da região, bem como, material com conteúdos sobre a realização das pesquisas arqueológicas nos processos de licenciamento ambiental.

Nas palavras do Arqueólogo Prof. Dr. Valdir Luiz Schwengber, coordenador das pesquisas: “O incentivo à pesquisa arqueológica é fundamental para a geração de conhecimento sobre o passado de uma determinada região, pois, cada sítio arqueológico encontrado representa um fragmento de nossa História”.
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