Em Tubarão, esses sítios estão localizados no entorno dos morros que compõem a paisagem local, com destaque para o Morro de Congonhas que possui 8 (oito) sambaquis registrados em seu entorno. Dentre eles, vale mencionar os sambaquis Congonhas I, por sua monumentalidade original; e o Congonhas II, que também apresenta grandes proporções e vem sendo objeto de estudo pela Espaço Arqueologia. A construção desses sítios ocorreu ao longo de séculos e, em sua estratigrafia, são evidenciados eventos que registram esse complexo processo de construção. Neles, também são identificados sepultamentos, adornos e artefatos produzidos sobre ossos, conchas e rochas.
Diferente desses dois sambaquis, o sítio arqueológico Sambaqui das Abelhas, localizado às margens da BR-101 sobre um conjunto de blocos de granito que afloram na planície sedimentar, não se destaca na paisagem e é composto por uma camada arqueológica pouco espessa.
Dados obtidos em pesquisas executada sobre o sítio durante as obras de duplicação do trecho sul da BR-101 no estado de Santa Catarina, indicam que o contexto arqueológico é composto majoritariamente por conchas associadas a ossos de peixes. Tais características também foram constatadas durante a pesquisa de delimitação do sítio, executada pela equipe da Espaço Arqueologia.
Com os caminhamentos e poços-teste executados pela equipe, verificou-se que o sítio ocupa uma área de 1678 m², e que a camada arqueológica está depositada sobre os blocos de granito em sua parte mais alta e sobre sedimento arenoso branco de granulometria média a grossa nas áreas mais baixas. No entorno do sítio, além da BR-101, encontram-se áreas de inundação sazonal, características das planícies sedimentares de paleolagoa que, na região, hoje são utilizadas para o plantio de arroz.
Thiago Torquato, arqueólogo da Espaço que atuou nas atividades de delimitação do Sambaqui das Abelhas, explica que tais variações na forma e composição dos sambaquis podem ser atribuídas às diferentes funcionalidades dadas aos assentamentos dentro de um complexo sistema de ocupação regional, mas, também, podem estar relacionadas às transformações culturais vivenciadas pelas populações sambaquieiras.
Segundo o arqueólogo, o fato de não haver datações para o Sambaqui das Abelhas impõe limites às interpretações, contudo, partindo-se da hipótese de que o sítio se encontra no mesmo horizonte cronológico dos sambaquis monumentais (por volta de 4,5 e 3 mil anos atrás), pode-se interpretá-lo como um local de ocupação de curta duração ou uma área de atividade específica, já que se encontra um ponto avançado sobre a planície sedimentar. Por outro lado, ainda de acordo com o pesquisador, se considerarmos que o sítio representa um período mais recente (em torno de 2,5 mil anos atrás), este pode refletir as mudanças de estratégias de ocupação do território aplicadas pelas populações sambaquieiras, onde a utilização das conchas apresenta uma diminuição considerável.
As atividades de delimitação do Sambaqui das Abelhas tiveram como principal objetivo fornecer informações sobre a localização e a área ocupada pelo sítio arqueológico, a fim de contribuir para a adoção de medidas para a sua salvaguarda. Assim como as pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos 30 anos que trouxeram importantes avanços científicos e permitiram novos olhares sobre os sambaquis, ações de salvaguarda como essa são fundamentais para que a gestão desse Patrimônio seja efetiva e os testemunhos ainda existentes sejam preservados para pesquisas e projetos futuros.