Dos cafezais aos lugares de memória

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Conheça um recorte da história da região de Cordeirópolis

Em 2020 a equipe da Espaço Arqueologia fez a Avaliação de Impacto ao Patrimônio Arqueológico em Cordeirópolis, na divisa com Limeira, especificamente nos limites de um empreendimento imobiliário que será instalado na propriedade da Fazenda São Francisco. Como resultado, nenhum sítio arqueológico foi encontrado, o que levou a atenção dos pesquisadores para a paisagem cultural local, muito influenciada pelo período histórico conhecido como Ciclo do Café.

Quando a produção do grão se espalhou pelo interior de São Paulo, no século XIX, grandes extensões de terra foram doadas aos afortunados com a intenção de movimentar a economia do oeste paulista. Ao mesmo tempo, terras do interior das sedes das fazendas teriam sido ocupadas pela população mais pobre, como escravizados libertos que formaram sítios para o cultivo de subsistência e de cana-de-açúcar, moídas nos engenhos.

O núcleo colonial que deu origem a Cordeirópolis teve início por volta de 1817, com a instalação da Fazenda Ibicaba, pertencente ao Senador Nicolau Campos Vergueiro. A propriedade foi sede da primeira colônia de imigrantes, principalmente suíços e alemães, sendo pioneira na transição entre a mão de obra negra escravizada pelo trabalhador europeu nas lavouras de café, muito antes da abolição da escravatura (1888). Além da chegada dos agricultores para o núcleo colonial da Fazenda Ibicaba, muitos trabalhadores avulsos e comerciantes se deslocaram para o lugar, formando um aglomerado de habitações.

Na época, o Sistema de Parceria, criado por Vergueiro, era o contrato que estabelecia as regras para a manutenção do trabalho na lavoura cafeeira. O sistema consistia no recrutamento e no custeio da viagem do imigrante, que em troca teria que trabalhar por pelo menos quatro anos para quitar a dívida. Por meio do contrato, a cada família cabia um número determinado de pés de café que pudesse cultivar, colher e beneficiar, além de roças para o plantio de mantimentos. O produto da venda do café era dividido entre colono e fazendeiro, devendo prevalecer o mesmo princípio para sobras de mantimentos que o colono viesse a vender.

No entanto, além das dificuldades na adaptação ao clima e cultura local, o imigrante foi levado ao endividamento pelo Sistema de Parceria, baseada numa contabilidade questionável, fazendo com que suas condições de trabalho piorassem. Isto fez insurgir, em 1850, um movimento conhecido como “Revolta dos Parceiros” ou “Insurreição dos imigrantes europeus”. A repercussão da resistência resultou em publicidade negativa na Europa, o que dificultou a manutenção do sistema de trabalho e a vinda de novos trabalhadores.

Depois disso, a vinda de imigrantes para a região de Cordeirópolis só foi reestabelecida na década de 1880, através da criação de uma sociedade promotora de imigração. Assim, para acomodar o grande número de trabalhadores, o governo provincial decidiu pela divisão de porções de terra em pequenos lotes, para que assim eles pudessem melhor se estabelecer. Nesse contexto, surge o Núcleo Colonial de Cascalho, onde passaram a ser proprietários dos lotes, pagando ao Estado pequenas parcelas.

A imigração italiana foi a que melhor se adaptou. Seu estabelecimento provocou o aumento da circulação de mercadorias e outros bens e serviços, além de expansão demográfica do pequeno núcleo. Com isso, por volta de 1885, o fazendeiro Manoel Barbosa Guimarães, loteou uma área de terra, dando início à povoação do local, que se chamaria Capela de Santo Antônio do Cordeiro que, mais tarde, se tornaria Cordeirópolis. As casas desse povoado eram de pau a pique, construídas à beira das estradas de ferro e passaram a ser edificadas com tijolos, devido a influência das olarias que ali haviam se estabelecido.

Hoje, o horizonte dos grandes cafezais é cortado por extensas rodovias federais, e o café, como ocorreu em boa parte do oeste paulista, deu lugar à cana e à soja. Muita coisa mudou, mas vale rememorar um período que contribuiu para a formação social, cultural e econômica, e trazer à tona a relevância de antigas fazendas e outros patrimônios edificados como lugares de memória que remetem a esse recorte da história regional.
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