Os sambaquis são os mais visíveis testemunhos da ocupação humana empreendida no período pré-colonial ao longo de todo o litoral brasileiro. Especialmente em Santa Catarina, suas estruturas compostas por camadas de conchas, sedimentos e restos de fogueiras são encontradas, principalmente, em ambientes lagunares, baías e ilhas.
Na região do Baixo Vale do Itajaí, a 18,5 Km de distância do mar, está o Sambaqui Ilhota 2, sendo seu nome derivado do município onde o sítio arqueológico foi encontrado. Ao lado, acontece a obra de duplicação da BR-470, cujas atividades não sofreram interrupções pelo grupo de pesquisadores que, durante 3 semanas do mês de junho, estiveram no local realizando as escavações.
Neste contexto, foram identificados dois esqueletos humanos, que atualmente estão em análise no laboratório da Espaço Arqueologia, empresa de consultoria arqueológica com sede em Tubarão-SC. Os já analisados restos de carvão, proveniente de duas fogueiras, indicam que houve presença humana no local há, pelo menos, 5.880 anos antes do presente. O material orgânico foi datado pelo laboratório Beta Analytics, na Flórida/EUA, por meio do método carbono-14 (14C). Simulações paleoambientais demonstram que no período em que o sambaqui foi construído, o local tratava-se de uma pequena ilha inserida no meio de uma laguna. Hoje, o sítio está implantado sobre o topo de uma elevação de matriz argilosa, cercada por plantação de arroz.
A ausência de água potável, bem como o caráter isolado da ilha indicam que o espaço pode ter sido utilizado para a realização de cerimônias e ritos funerários, e a presença dos dois sepultamentos na base do sambaqui reforça essa hipótese.
Em sua relação com o ambiente, grupos humanos desenvolvem estratégias de sobrevivência adaptadas à paisagem. Traços dessas estratégias podem ser observadas por meio da análise zooarqueológica, realizada nos vestígios de fauna presentes no local. No sambaqui Ilhota 2, os dados apontam uma dieta composta exclusivamente por peixes, sendo a maior incidência de espécies como o bagre, a miraguaia, o sargo-de-dente, o robalo e a corvina. O pequeno tamanho dos peixes capturados indica que a base alimentar era pautada na pesca de peixes juvenis presentes nas águas rasas e, eventualmente, peixes de grande porte que entram no período da desova. Diferente de outros sambaquis continentais, neste não existe a presença de mamíferos marinhos ou de animais de hábitos florestais.
O estudo está sendo realizado por pesquisadores das áreas de biologia, história, arqueologia e afins. Esses profissionais formam a equipe multidisciplinar da Espaço Arqueologia, que objetiva, por meio das análises, contribuir para um maior entendimento acerca das dinâmicas de ocupação do território hoje compreendido como litoral centro-norte catarinense pelos grupos pescadores-caçadores-coletores.
Clique aqui para conferir as imagens captadas pela equipe de Comunicação da Espaço Arqueologia durante as escavações.
Créditos fotos: Espaço Arqueologia